A origem de Kirby – Kirby’s Dream Land

(TODO CONTEÚDO DESSE TEXTO PODE SER VISTO NO VÍDEO ACIMA)

Nas primeiras décadas da história dos videogames, os jogos eletrônicos eram conhecidos como desafiadores. Finalizar um jogo era coisa de pessoas muito habilidosas, que tinham bastante paciência ou simplesmente não tinham opção. Isso cada vez mais deixou de ser tendência e as empresas aos poucos foram notando que precisam trazer públicos mais jovens e menos habilidosos para a indústria. Uma das iniciativas mais notáveis foi Kirby’s Dream Land lançado em 1992 para o game boy, o primeiro jogo de uma série de uma das franquias mais sólidas da Nintendo, embora não tão popular como outras desse período.

Equipe de Kirby’s Dream Land

O primeiro jogo do bola rosa da Nintendo, que nem rosa era até então, tinha tudo para dar certo. Como produtor do jogo tínhamos nada mais nada menos que uma das figuras mais importantes da história dos videogames, o Shigeru Miyamoto, criador das franquias Mario, Zelda e Donkey Kong, uma verdadeira lenda na indústria. Como produtor e programador tínhamos Satoru Iwata, um programador talentosíssimo, responsável por várias proezas, como criar um algoritmo de compressão que adicionou o continente inteiro de Kanto no pokémon gold/silver, jogo esse que ficou com 2 continentes, uma quantidade absurda da mapa para um jogo de game boy. Iwata mais tarde também se tornou o presidente da nintendo mais popular de todos os tempos, famoso por estar próximo do público e por ter guiado a Nintendo de volta aos seus tempos de glória com o lançamento do Wii. Outro membro importante da equipe foi o diretor Masahiro Sakurai, o cara que nunca envelhece, pois ele parece ser mais novo hoje do que em 1993. Sakurai, além de ser o criador do Kirby, seria responsável por criar outra franquia no futuro, o Super Smash Bros, jogo no qual ele está envolvido até hoje.

Sakurai, o cara que não envelhece

Essa equipe dos sonhos precisaria mesmo fazer um milagre, pois Hal Laboratory, produtora do jogo, tinha aberto um pedido de falência, porque a empresa realmente estava quebrada, então a nintendo teve que intervir, colocar Satoru Iwata como presidente da Hal e logo de cara Kirby foi produzido.

Artes conceituais de Kirby’s Dream Land

O visual simples do personagem Kirby acabou surgindo por um acidente. Quando Sakurai apresentou as artes conceituais do jogo, mostrando suas principais mecânicas, o personagem que aparecia ali era apenas um modelo, por isso que era uma bolinha sem muitos detalhes, faltava ainda desenvolver o visual definitivo do personagem, mas a equipe adorou do jeito que ele estava ali, pois a aparência de Kirby combinava com a proposta do jogo de um personagem que vira um balão e engole as coisas, além de que era um personagem tão simples que qualquer um poderia desenhá-lo.

Comercial americano

Lembram que eu citei que Kirby nem era rosa no início? Pois é, ele era branco, pois o game boy não tinha cores. Miyamoto acreditava que Kirby se tivesse cores seria amarelo, assim como o Pacman, mas Sakurai sempre imaginou ele rosa. Essa confusão parece ter sido passada para os materiais publicitários do personagem em cada região. No Japão, o personagem aparece como uma figura rosa fofinha e amigável, tanto nas propagandas de televisão, quanto na própria capa do jogo. Já nos Estados Unidos, ele era branco, tanto na capa do jogo quanto no comercial. Aliás, essa propaganda americana fazia o Kirby parecer uma figura de um filme de terror, pois no comercial ele come uma pessoa e suga o corpo e a inteligência da vítima, cuspindo para fora uma cabeça de homem aparentemente demente. Será que a mão que segura o game boy no final da propaganda é do próprio Kirby usando o corpo roubado do homem? Comparando as duas propagandas, ainda existe uma outra diferença entre elas. Na propaganda japonesa, eles mostram a imagem real do jogo rodando no game boy e mal dá para enxergar o que está acontecendo, já que o primeiro game boy tinha uma tela horrorosa. Já a propaganda americana parecia usar o super game boy, um cartucho que rodava os jogos do portátil da nintendo no super nintendo e melhorava a imagem do jogo, embora esse cartucho só seria lançado dois anos depois e provavelmente arrumaram uma outra forma de pegar essa imagem.

Comercial Japonês

Nem sempre Kirby teve esse nome. Inicialmente eles iriam chamá-lo de Popopo, mas resolveram encontrar um nome que iria ter um apelo no ocidente. Pediram para Nintendo da America mandar vários nomes, mas acabaram escolhendo Kirby, em homenagem a John Kirby, que salvou a nintendo de um processo milionário de plágio com o Donkey Kong, que era acusado de ser um plágio do King Kong da Universal. John Kirby evitou que a Nintendo perdesse todo o dinheiro conseguido no seu primeiro sucesso e virou um ídolo na empresa.

O conceito inicial de Kirby’s Dream Land era de que fosse um jogo fácil, cujo o personagem poderia sugar inimigos para usá-los como armas para acertar outros inimigos. No meio do desenvolvimento do conceito, pensaram que seria interessante ele voar também, pois se ele sugasse ar no lugar de um inimigo, viraria um balão. Essas duas características básicas faziam com que Kirby fosse um jogo bem diferente, pois a maioria dos jogos de plataforma da época tinham como maior desafio os pulos precisos e severas punições se o jogador errasse. Em Kirby’s Dream Land, bastava sair voando e era possível ignorar qualquer plataforma difícil, sendo que o voo ainda era ilimitado, sem precisar pegar impulso ou algo assim. É muito legal jogar um game que dá tanta liberdade na movimentação, mas cobrava o seu preço, pois além de deixar tudo muito fácil, alguns jogadores ainda ignoravam os inimigos, pois percebiam que o combate contra eles era um risco maior do que simplesmente passar voando por eles. Isso só não foi um problema ainda maior porque o jogo realmente não era nada desafiador para veteranos nos videogames da época e ainda hoje é considerado fácil demais. Além de fácil, o jogo era curto e nem tinha opção de salvar o progresso ou password. Pelo menos era tão curto que qualquer um poderia finalizá-lo sem trocar a pilha do game boy. Eu mesmo finalizei ele em menos de uma hora. Para aqueles que queriam um pouco mais de desafio, tinha um código liberado depois de finalizar o game que aumentava a dificuldade do jogo.

Pode-se dizer que Kirby era pacifista em Kirby’s Dream Land, pois usa os inimigos contra eles mesmos, sugando-os e usando-os como arma para atacar outros, atacando inclusive os carismáticos chefes, sendo que missão de Kirby era vencê-los e derrotar o rei Dedede, que tinha roubado toda a comida de Dream Land. Alguns podem estranhar que uma característica que atualmente define o personagem, que é poder se transformar quando engole um inimigo, não está presente nesse primeiro jogo e talvez no futuro eu posso explicar a razão dessa mecânica ter sido criada, mas por enquanto, apenas digo que o jogo funciona, apesar da falta dessa habilidade.

O design das fases, embora pouco desafiador, não posso dizer que não é criativo, explorando muitas vezes a capacidade de voar do protagonista, com inimigos que nem sempre vão aceitar ser sugados. Mesmo que tudo seja monocromático, os cenários são bem variados e esbanjam alegria, tanto que dá quase para imaginar como eles seriam se fossem coloridos.

Ainda que seja fácil até demais, Kirby conquistou muitos por suas ideias originais e dificuldade amigável, pois para aqueles que estavam entrando no mundo dos videogames no game boy, Kirby’s Dream Land era o jogo ideal, sendo o ponto de virada que a Hal Laboratory continuasse existindo até hoje. Esse foi o primeiro jogo de uma série que dura até os dias atuais, cujo personagem já foi adaptado para quadrinhos e até ganhou seu próprio desenho animado. Era sim um jogo muito diferente e por esse motivo bastante arriscado, mas na indústria dos videogames a criatividade muitas vezes vence o medo no final, e Kirby’s Dream Land prova isso.

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